O novo coronavírus aumentou a necessidade de insumos e equipamentos hospitalares em todas as regiões do país. Desde o início da pandemia, em março, hospitais públicos e privados sofrem com a falta de máscaras, respiradores e outros itens usados durante o tratamento dos infectados.
O desafio não é exclusivo do Brasil e afeta diversos países que dependem da importação desses materiais. Diante desse cenário de alerta, um tema começou a ser discutido por sindicatos e representantes empresariais como solução para o problema: a reconversão industrial.
O que é reconversão industrial
Reconversão industrial é a mudança dos propósitos de produção de uma indústria com o objetivo de atender demandas sociais e econômicas de um período específico.
Como medida de combate à pandemia, além do isolamento social, é necessário que algumas indústrias — especialmente aquelas que produzem itens considerados não essenciais — façam essa reconversão para produzir insumos de saúde importantes para o tratamento dos doentes.
A medida busca diminuir a dependência de importação, especialmente da China, maior fornecedora de máscaras de proteção e equipamentos para UTI do mundo.
Além de beneficiar a saúde, auxiliando no combate à pandemia, a reconversão possibilita que indústrias antes paralisadas devido ao isolamento social mantenham o parque industrial ativo e os funcionários trabalhando, movimentando a economia.
Exemplos de reconversão industrial
Diversas empresas do setor privado, especialmente da indústria automotiva, tomaram a frente no processo de reconversão industrial. As fábricas da GM, em São Paulo, passaram a consertar respiradores que não estão em funcionamento. Já a Ford anunciou que produziria, inicialmente, 50 mil máscaras em suas fábricas em Camaçari (Bahia) e Pacheco (Argentina).
Outro exemplo é a Magnamed, indústria brasileira que produz ventiladores pulmonares, aparelhos essenciais no tratamento de alguns infectados. A empresa firmou contrato com o Ministério da Saúde para fornecer 6,5 mil equipamentos até agosto de 2020.
Para suprir a demanda, a Magnamed firmou parcerias com organizações de outros setores, como Positivo Tecnologias, Suzano, Embraer e Klabin. Cada uma ficará responsável por uma parte da produção: a Embraer, fabricante de aviões, entrou com sua experiência com usinagem complexa, enquanto a Klabin, produtora de papéis e embalagens, assumiu a gestão de compras e importação de componentes.
A Ambev, indústria do mercado de bebidas, também anunciou uma reconversão para a produção de álcool gel 70% em suas unidades. O produto terá origem no processo de fabricação de bebidas alcoólicas e será doado para hospitais.
Os desafios da reconversão industrial
Com a redução significativa das atividades industriais, devido ao isolamento social, a reconversão industrial é uma alternativa para que as empresas mantenham suas operações. No entanto, ela não vem sem seus desafios.
O primeiro deles está ligado ao aspecto econômico. Ressignificar toda uma linha de produção e reorientar seus processos têm um custo. Além disso, há a preocupação com a comercialização dos itens produzidos.
Como forma de minimizar esses impactos, o Ministério da Ciência, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), anunciou a liberação de R$ 600 milhões em três linhas de crédito, uma delas direcionada para empresas que buscarem a reconversão industrial.
O segundo desafio é de ordem regulatória. Comercializar produtos, especialmente ligados à área da saúde, exige atender a uma série de regulamentos e certificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Devido à urgência causada pelo rápido aumento no número de infectados pelo coronavírus, a Anvisa flexibilizou suas regras de produção e comercialização de produtos para higienização, como é possível constatar pelas resoluções 349 e 350/2020.
Por último, estão as questões ligadas à reestruturação da linha de produção em si. É preciso pensar nos protocolos de segurança, que mudam com a produção de produtos diferentes, de saúde e higienização, e passam a ser mais exigentes.
Como fazer uma reconversão industrial
Apesar dos desafios, a reconversão industrial é uma alternativa que torna o negócio sustentável em vários aspectos: economicamente, para manter a saúde financeira da organização; e socialmente, mantendo empregos e auxiliando em uma crise global.
A mudança das linhas fabris envolve a readequação do maquinário e da mão de obra às novas exigências, além da alteração do layout da fábrica. Um primeiro passo é identificar quais recursos já disponíveis podem ser redirecionados e aqueles que precisam ser adquiridos.
Como existem diversos insumos e equipamentos em falta em hospitais de todo o país, as duas maiores prioridades em termos de produção são:
- EPIs: máscaras descartáveis, luvas e aventais são usados para proteger os profissionais de saúde que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus. Apesar de o Brasil ter capacidade produtiva interna, a pandemia gerou um forte aumento na demanda desses materiais;
- Respiradores pulmonares: uma das consequências mais graves do coronavírus é uma pneumonia. Para tratá-la, alguns pacientes precisam ir para leitos semi-intensivos ou de UTI. A produção desses aparelhos exige expertise mecânica e pneumática, além de eletrônica.
Enquanto os EPIs são mais simples de produzir, com empresas do ramo têxtil sendo rapidamente convertidas para a fabricação de máscaras e aventais, a produção dos respiradores não é tão fácil.
No Brasil, atualmente existem três empresas que produzem esses equipamentos, com grande parte de sua produção dependendo de componentes importados. Para ter êxito, o projeto exigiria planejamento e coordenação na realização de parcerias com empresas de outros setores — como foi feito pelo Magnamed.
Para auxiliar indústrias que desejam iniciar o processo de reconversão, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) buscam capacitar empreendedores e empregados sobre as particularidades da produção de insumos de saúde.
O SENAI compartilhou tutorial e molde para a fabricação de máscaras cirúrgicas, além de ter liderado a capacitação de representantes das montadoras no conserto dos aparelhos respiratórios.
Já o Sebrae publicou em sua página tutoriais para a fabricação de máscaras protetoras e álcool gel 70%.
A reconversão industrial envolve um debate amplo e muitas variáveis, mas certamente traz benefícios, tanto para a sociedade quanto para a empresa. O momento de crise causado pelo coronavírus exige que as indústrias se reposicionem, para manterem a saúde financeira e contribuírem na mitigação dos danos causados pela pandemia.
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